Dualismo é uma concepção filosófica ou teológica do mundo baseada na presença de dois princípios ou duas substâncias ou duas realidades opostas e inconciliáveis, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação. É dualista por excelência qualquer explicação metafísica do universo que suponha a existência de dois princípios ou realidades não subordináveis e irredutíveis entre si.
Em filosofia, o dualismo opõe-se às várias formas de monismo, dentre as quais o fisicalismo e o fenomenismo. Refere-se à relação matéria-espírito, fundada sobre a afirmação de que os fenômenos mentais são exteriores ao mundo físico.[1]
História
A ideia aparece na filosofia ocidental já nos escritos de Platão e Aristóteles, que afirmam, por diferentes razões, que a inteligência do Homem (uma faculdade do espírito ou da alma) não pode ser assimilada ao seu corpo, nem entendida como uma realidade física. [2] [3].O termo aparece pela primeira vez na Veterum Persarum et Parthorum et Medorum Religionis Historia (1700), de Thomas Hyde, [4][5] obra que tratava da doutrina de Zoroastro, com seus dois princípios ou divindades - o bem e o mal -, em luta permanente. Bayle (Dictionnaire historique et critique) e Leibniz (Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l'homme et l'origine du mal) também utilizam o termo no mesmo sentido.
No entanto, o uso do termo na acepção mais difundida pela tradição filosófica data da primeira metade do século XVIII, com Christian Wolff (1670-1754). Wolff deslocou o emprego da palavra para a relação entre corpo e alma, opondo o dualismo ao monismo. Segundo ele "são dualistas aqueles que admitem a existência de substâncias materiais e de substâncias espirituais", [6][7] e o fundador do dualismo teria sido Descartes, que formalizou a versão mais conhecida do dualismo em 1641, ao reconhecer a existência de duas espécies diferentes de substâncias: a corpórea e a espiritual.
Descartes foi o primeiro a assimilar claramente o espírito (substância imaterial) à consciência e distingui-lo do cérebro, que seria o suporte da inteligência. Chamou a mente de res cogitans ("coisa pensante") e o corpo de res extensa ("coisa extensa", isto é, que ocupa lugar no espaço). A ligação entre a mente e corpo, segundo ele, seria feita através do tálamo, uma pequenina parte do cérebro. Foi Descartes, portanto, quem primeiro formulou o problema do corpo-espírito do modo como se apresenta modernamente.[8]
Assim, em termos metafísicos, a realidade se constitui de duas substâncias - material e espiritual - sendo a substância material, a realidade sensível; e o espírito, o não físico, não material, constituindo a realidade mental ou espiritual.
Posteriormente, o uso do termo foi muito ampliado. "Dualismo" passou a designar toda contraposição de tendências irredutíveis entre si, tal como a oposição aristotélica entre matéria e forma, assim como a oposição medieval entre existência e essência e o dualismo kantiano da necessidade e liberdade, fenômeno e númeno. Já no século XX, Arthur O. Lovejoy examinou historicamente o dualismo e defendeu a existência de dois tipos de realidade - os objetos e as ideias que eles representam - em The Revolt Against Dualism (1930)[9]. O título da obra é inadequado, pois Lovejoy argumenta a favor de uma espécie de dualismo ontológico - e não contra, como o título sugere. Segundo ele, ideias e objetos, dada a sua incongruência espaço-temporal, não podem ser idênticos e, portanto, teriam naturezas diferentes, separadas, não sendo possível estabelecer uma relação entre ambos.[10]. Por volta dos anos de 1950, o britânico Gerald Gardner criou a wicca, religião neopagã baseada no culto bruxo e no dualismo, classificando os dois princípios como Deusa-mãe e Deus cornífero (o feminino e o masculino). O dualismo é a principal crença na religião wicca
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